segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Ensinanças

Ah, os adventos da era tecnológica. Não há escapatória. Naquele ramo onde trabalha o pai e, mais recentemente, ela, ou se sabe o que é mídia social ou se aposenta. O pai até que conseguira driblar as demandas durante um tempo. Toda vez que precisava de algo que exigisse mais que uma pequena noção de Google, chamava um dos filhos e deixava que eles resolvessem. Quando ela e os irmãos começaram a trabalhar e já não tinham mais tempo de ajudar o velho, ele contratou um estagiário.

Tudo parecia estar correndo bem. O estagiário lidava, basicamente, com a internet, e o pai estava livre para fazer aquilo que gostava e sabia como mais ninguém. Até o dia em que o menino adoeceu e faltou ao trabalho.

Foi um desespero. O pai já havia ligado para todos os filhos, e, todos trabalhando, não podiam sair para ajudá-lo. Tentou, então, convencê-la mais uma vez. Seu irmão cardiologista e sua irmã professora não podiam se ausentar do trabalho. Ela era a última esperança! Onde estava a compaixão? Família em primeiro lugar.

Como sempre, a chantagem emocional funcionou. Ela avisou ao chefe que estava tomando sua folga um pouco mais cedo e dirigiu-se ao escritório do pai, onde foi recebida por uma pessoa descabelada, com a camisa desabotoada, que parecia estar beirando um colapso mental. Não se assustou, já estava acostumada com os exageros do pai.

Sentou-se na cadeira, respirou fundo e pacientemente explicou ao pai, já um cinquentão-quase-sessentão, como fazia seu trabalho. Tudo correndo bem, até chegar na parte prática.

- Primeiro a gente cola o URL aqui nesse espaço, copia e cola o texto aqui nessa caixa e diz qual é o sentimento. Aí, pra facilitar e organizar, escolhe uma tag e um assunto. Depois diz qual foi o público, a keyword, o tipo de site e a data. Aí a gente vai colocar as informações da comunidade e do bloguei...pai?

-Hum? Sim, sim, minha filha. Você está fazendo um trabalho ótimo! Agora deixe papai se concentrar no trabalho dele, sim?

O pai, já completamente composto, sorrindo sorrateiramente, estava imerso em outros assuntos. Mais uma vez, havia conseguido se esquivar daquilo que, muito provavelmente, não iria nunca entender. Nem fazia questão.

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